12/10 ~ Joyce Moreno

12/10 ~ Joyce Moreno

PASSARINHO URBANO – O SHOW

Gravado apenas em voz e violão no ano de 1976, Passarinho Urbano reúne faixas de Milton Nascimento, Edu Lobo, Caetano Veloso, Zé Keti, Capinam, Mauricio Tapajós, Paulo César Pinheiro, Paulinho da Viola e Chico Buarque, em grande parte faixas que haviam sido censuradas pelo governo militar. Joyce, que é compositora, nesse trabalho assina apenas a faixa “Passarinho”, uma faixa que transforma em canção o clássico poema de Mario Quintana.

Resistência, substantivo feminino. Para os artistas brasileiros que viveram entre os anos 60 e 70 era um gênero de primeira necessidade. Afinal, os anos eram de chumbo e o chumbo era grosso. O chefe da polícia, pelo telefone, mandava a dura, numa viatura muito escura. Chame o ladrão! O pau quebrava e, enquanto isso, de frente pro crime, a menina de Copacabana, a mesma que, um dia, teve aspiração de ter um violão e se tornar sambista, evoluía de bamba. E das boas.

Na flor de seus vinte e poucos anos, Joyce deixou as mágoas para trás e saiu para ganhar o mundo. Os anos 70 começavam a forjar sua “gafieira moderna” cheia de “hard bossa”, que foi parar, veja só, na Itália. E foi lá que ela pediu passagem para gravar um novo disco, que não seria um disco qualquer. Se a barra pesava no Brasil, era o desejo – vital – de Joyce ser uma voz para seus amigos e compositores censurados, calados, sofridos. “PASSARINHO URBANO” nasceu dessa força, traduzindo, na urgência de suas faixas contínuas, o lamento sufocado por aquele período. Um discurso sem pausas, como numa única respiração. A percussão, por vezes em tom amargo, ecoava a fé de uma artista brasileira que não mudava de opinião: ver a sua terra cumprir seu ideal de democracia.

2019. 43 anos depois de seu lançamento, “PASSARINHO URBANO” ainda pulsa. Tempos estranhos estes atuais. Tem trem que atrasa, doutor que chora e o diabo que se aproxima, querendo dizer “ah ah” em nosso ouvido… Se hoje a vida e a sorte parecem servidas numa bandeja de prata, precisamos todos, mais do que nunca, da arte que cutuca, que balança a bandeira colorida. Precisamos, sim, dos artistas. E Joyce Moreno quer tanto, precisa mesmo de abraçar seu público neste momento particular que vivemos. É preciso dizer coisas que se acumularam. É preciso cantar. E agora vem este passarinho de longe, quem sabe da Amazônia, pra cumprir sua sina urbana de cantar pra alegrar a cidade.

Reviver “PASSARINHO URBANO” em um show é, essencialmente, um processo de reconstrução. Reconstrução daquela velha ponte, a da liberdade guardiã. Ainda que haja um muro que insista em separar, a música sempre estará aí para nos salvar. Afinal de contas, como Joyce costuma dizer, “a MPB tem resposta pra tudo”. O tudo de ontem e o de hoje. E assim vamos nós, “Quintanando” aqueles que atravancam o nosso caminho. “Eles passarão, Eu passarinho…”, entoa a menina de Copacabana na última faixa de “PASSARINHO URBANO”.

Nesta carreira que fala por si só, ser cantora, ser artista, isso tudo tem sido muito bom para Joyce Moreno há mais de 50 anos. O repertório deste novo show, sem prazo de validade, explica, ensina e nos diz muita coisa. É a Joyce sempre menina, de arte substantiva e feminina, por todo lugar. Pura resistência.

Maurício Gouvêa, setembro/2019

“Nesse show Joyce Moreno apresenta o antológico LP Passarinho Urbano, com sua voz e violão amadurecidos e um repertório surpreendentemente atual, 40 anos depois”.
Joyce Moreno – Voz e violão
Pedro Altman – Iluminação
Ricardo Pinto – Som


Serviço

Teatro Rival – Rua Álvaro Alvim, 33/37 – Centro/Cinelândia – Rio de Janeiro. Data: 12 de outubro (Sábado). Horário: 19h30. Abertura da casa: 18h. Ingressos: R$ 60,00 (Inteira), R$ 30,00 (Meia). Venda antecipada pela Eventim – http://bit.ly/TeatroRival_Ingressos2GIaEKp  Bilheteria: Terça a Sexta das 13h às 21h | Sábados e Feriados das 16h às 21h Censura: 18 anos. www.www.teatrorivalpetrobras.com.br. Informações: (21) 2240-9796. Capacidade: 350 pessoas. Metrô/VLT: Estação Cinelândia.

*Meia entrada: Estudante, Idosos, Professores da Rede Pública e Assinantes O Globo